Ruínas
Fui visitar pedras
Onde antes viveram os mortos d’hoje,
E não encontrei ninguém.
As pedras amontoavam-se apenas
Como recordações empoeiradas
Por entre muros rodeados de outras já tombadas.
As paredes continuavam a toda a volta
Em quadrados e retângulos
Rasgados por portas e janelas.
As casas eram cascas vazias de caracóis.
Sei só que lá viveram os mortos d’hoje,
E que eu lá não encontrei ninguém.
Algumas pinturas ainda brilhavam
Contra o estuque cinzento
Chapado por mãos defuntas.
Letras, desenhos, pensamentos d’antanho,
Tudo espalhado pelo tempo
Como estrelas no firmamento.
Fui visitar aquelas pedras
E lá não vi ninguém!
Vi apenas outras vontades,
E nelas vi espalhadas as minhas também;
Todas cobertas de anos, empoeiradas!
Cascas de caracóis vazias,
Mapas rasgados,
Papéis embrulhados,
Poemas cansados!
Naquelas pedras vi
Que quando tudo o que eu for
Forem as ruínas de alguém,
Tudo o que eu fiz no mundo
Não servirá a ninguém.
Imagem retirada de:
https://cdn.civitatis.com/portugal/coimbra/galeria/ruinas-conimbriga.jpg
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