Ampulheta
Vou escorrer por ti abaixo
E perder-me no tempo.
Quero que ter-te seja só o momento
Que marca o momento.
Vou descer pelo teu ventre,
Ser areia cansada de voltas
À tua cintura;
Teu corpo, ampulheta,
Tua pele, vidros,
Teus olhos contas de contar!
Depois suspiros de ventos,
Desabafos de tempos
Em que não torno a acreditar.
Vou cair ao fundo,
Rechaçar nos teus desejos
Com repiques de grão
Feito grão pelas Eras.
Vou deixar-te a mais pequena mácula,
Manchar-te as transparências,
Perder o medo de te partir
E, depois, partir.
Recordar-te será, um dia,
Ferida que não curou,
Memória,
A única prova
Que o tempo passou.
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