Árvore

Os livros não me resistem.
Tombam como as árvores
De que nasceram.

Uma floresta poderia crescer
Dos meus olhos semeados
Ao mesmo vento
Que restolhou as folhas
Das árvores que tombaram;
Ao mesmo vento
Que virou as folhas
Das páginas que viraram.

Uma árvore que vira livro
Vive duas vezes.

Resta serrá-las com os olhos,
Dobrá-las com o peso
De letras em frutos.
Quebrá-las com sílabas
Em cachos.

E os livros fazem-me partir.
Partem-me.
Sou eu que tombo
Dos canapés.
Os livros levam-me com eles
Como se a árvore que um dia foram
Me entregasse o vício
De renascer.

 


Aguarela por Paulo Brabo retirada de: https://www.baciadasalmas.com/arvore-aquarela/
 

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